VOLÚPIA
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ARIADNE E DIONÍSO |
Quero você com a força da multidão em delírio,Quero a entrega que você não me dá.Quero seus músculos, pele, dor e miséria,Quero o mal que há em você.Tragar sua dor, seu silêncio, sua solidão, seu não.Seu brilho dentro desta escuridão.Vejo através de seus olhos profundos. Sua solidão me comove,Mas me nego a ser seu capacho,Seu capacho dentro de uma casa suja.
Vermes passeiam por mim e eu os mato um a um,Vermes passeiam por mim e eu os mato um a um,Vermes passeiam por mim e eu os mato um a um. Sinto que estou descendo o abismo e você me conduz.
Conduza-me ao desconhecido,
Ele vive dentro do estômago do armário numa prisão de Bucareste.
Eu me nego a ser um peixe no aquário,
Eu me nego a ser um peixe no aquário.
Não me prenda em seu armário!
Não me prenda em seu armário!
Venha pra dentro.
Lá sentada em uma poltrona vermelha a volúpia lhe espera.
Vestida de negro ela só aguarda o seu leite.
Vou beber o que há em você!
Sugar seus lábios e o que há de oculto em você.
Tragar sua dor e lhe devolver o prazer.
Vou chorar suas dores e lhe devolver a doçura perdida.
Perderei-me em falsas juras.
E todo dia reinarei em seu caminho plantando encantamento.
Escreverei nossa história em verso e prosa e não me renderei um minuto
ao clichê de amor e dor.
Seremos insanos, alegres e dionisíacos.
Reinaremos com Baco à procura de braços despojados,Genitálias vadias numa ribalda encardida.
Quando tudo terminar, enfim descansarei no segundo turno da breve
existência,
Onde certamente encontrarei apolos censores e donos de pobres amores.
Chorarei por certo, mas não me deixarei afogar-me em lágrimas.
Estarei à beira do caminho procurando por dionísos encantados, talvez
encarnados como tu.
Ou então pousarei em silêncio conformado e tocarei a velha guitarra
desalmada,
Que tudo ri e chora.
Plantarei amoreiras e árvores centenárias serão testemunhas do fulgor do
passado.
Ensopada debaixo de úmidas sombras.
Tornarei-me rainha de minhas memórias.
Dona da certeza de jamais ter-me arrependido da companhia de Dioníso no
absoluto da existência.
Eu chorarei de saudade de ti.
Mas será um choro de júbilo e encantamento.
Certamente muitos pensaram ter-me em deleite.
Enganaram-se porque jamais passaram perto de mim.
Meu jardim é secreto: reino da tulipa negra tatuada nas costas de Apolo.
Por LUCY GIRARD
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